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O que será do rock sem Ozzy Osbourne?

  • Shoyu
  • 22 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de jul.

A partida de ícones da música convida a uma reflexão mais ampla sobre o significado da arte na contemporaneidade


A morte de Ozzy Osbourne, um dos principais arquitetos do heavy metal, anunciada nesta terça-feira (22), não apenas encerra a trajetória de uma figura lendária, mas também evidencia uma transformação profunda no cenário do rock pesado. Com a perda de nomes como Lemmy Kilmister, Ronnie James Dio, David Bowie, Tina Turner e Charlie Watts, surge uma pergunta inevitável: que futuro aguarda um gênero cujo pilar simbólico e artístico se esvai?


Duas semanas antes de seu falecimento, Ozzy protagonizou um evento histórico: o festival Back to the Beginning, que reuniu no palco a formação original do Black Sabbath (Ozzy, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward) após 20 anos. Sob a direção musical de Tom Morello, o festival durou cerca de 11 horas e contou com participações de figuras de diferentes gerações e estilos. Além disto, arrecadou US$ 190 milhões para instituições de combate ao mal de Parkinson, doença que afetava Ozzy.

Mesmo com as limitações físicas do vocalista, o momento foi um potente lembrete do impacto estético e sonoro que moldou um universo musical complexo, híbrido e resistente.

Afinal, o príncipe das trevas encarnava mais do que uma voz ou um estilo; era um símbolo cultural e um arquétipo do heavy metal. Sua morte representa um ponto de inflexão que evidencia a ausência crescente de figuras capazes de condensar em si a essência de suas músicas.

O heavy metal se vê agora diante do desafio de reconfigurar sua relevância em um ambiente cultural que não mais privilegia a construção de mitologias individuais duradouras.


O culto à memória


O luto da comunidade do metal se manifesta intensamente, entre tributos, relançamentos, tatuagens e homenagens. Esse movimento de canonização indica um esforço coletivo para preservar a memória e reafirmar a importância histórica de uma geração que ajudou a construir uma linguagem musical e visual única.

No entanto, esse processo também traz outra questão latente: até que ponto o gênero pode se sustentar sobre uma herança tão venerada sem se fechar em nostalgia? Será que o metal está entrando em uma fase de autorreferência, deslocando seu potencial de inovação e ruptura?


Não há dúvidas de que o heavy metal segue vivo, pulsando em cenas locais e novas expressões que buscam incorporar tanto o peso e a crítica social quanto linguagens contemporâneas. Mas o desaparecimento dos pilares históricos torna a travessia para novos tempos mais complexa.


Sem figuras com a mesma presença simbólica de Ozzy, a música precisa encontrar novos líderes; não apenas artistas virtuosos, mas capazes de consolidar uma identidade coletiva e simbólica que dialogue com o presente. Caso contrário, corre o risco de se tornar uma arte quase restrita, valorizada principalmente pelo culto à memória.


Vale ressaltar que Ozzy Osbourne não se limitou ao heavy metal. Sua presença em mídias populares, como o reality show The Osbournes, exibido dos anos 2000, e colaborações recentes com artistas de diferentes gerações e gêneros, como a parceria com o rapper Post Malone na faixa Take What You Want (2019), ampliaram significativamente sua influência cultural. Essa capacidade de diálogo transversal com públicos diversos é uma das marcas mais difíceis de serem replicadas no contexto atual, caracterizado pela fragmentação e efemeridade.


A morte de Ozzy não determina o fim do gênero, mas expõe um momento crítico de transição. A música está em um ponto de inflexão entre a reverência às raízes e a necessidade de transformação. Mais do que nunca, cabe a músicos, fãs e indústria refletir sobre qual som querem construir: um que apenas rememore seu passado ou um que se reinvente para manter sua potência cultural viva!


Ele partiu, mas o amor que dedicou à música e o impacto de sua obra serão eternos.






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