Sensibilidade e inovação moldam o futuro do house nacional
- Shoyu
- 2 de ago.
- 3 min de leitura
DJ Aninha reflete sobre técnica, inovação e a resistência feminina dentro do universo da música eletrônica em entrevista exclusiva!
Um mergulho na trajetória da rainha do house brasileiro revela muito mais do que batidas e aplausos: é a história de uma artista que fez da autenticidade o fio condutor de sua vida. Neste sábado, 02, Aninha conversou com o Um Olho sobre música, criação e o desafio de se manter fiel a si mesma em um cenário cada vez mais ditado por algoritmos e tendências passageiras.
O título de “rainha do house brasileiro” é recebido com simplicidade e afeto. “Interpreto como algo carinhoso e genuíno, que fãs e pessoas da cena têm por esses meus anos de dedicação à música eletrônica em diferentes formatos, seja como mulher, DJ, produtora e empresária”, afirma. Esse reconhecimento nasce de uma identidade sonora construída na observação e na pesquisa. Antes de ocupar grandes pistas, Aninha era frequentadora atenta. “Passei muitos anos apenas pesquisando música, lendo sobre história e artistas que curtia, indo às festas, observando comportamentos e prestigiando DJs locais e gringos, pra ver o que estava acontecendo e o que de fato gostava”, lembra. Suas maiores referências vieram do house old school de Detroit, Chicago, Nova York e São Francisco, sons que moldaram sua técnica e intuição musical.
No palco, cada apresentação é um encontro íntimo. “Sou hiperfocada quando toco, observo as pessoas na pista e suas reações. Às vezes tenho a energia mais fechada, outras mais aberta. Mas tudo é reflexo do que a pista responde”, explica. Antes de entrar em cena, o ritual é simples, mas essencial: comida leve, um pedido de proteção e o desejo silencioso de que todos sintam algo bom na dança.
Essa entrega emocional também se traduz no estúdio, ainda que por outro caminho. “Curto produzir com liberdade e quando tô inspirada. Não fico todos os dias tentando fazer algo. Então quando sento, começo e já termino a ideia. Às vezes sai mais pesada, outras mais leve…”, conta. É nesse fluxo intuitivo que ela mantém viva uma sonoridade própria em um mercado cada vez mais efêmero. “Hoje as coisas estão muito enviesadas em cima de trends de uma semana e superficialidade. Todo mundo tocando o mesmo som, tendo os mesmos gestos e querendo as mesmas coisas, fica chato. Então naturalmente faço ao contrário e me mantenho fiel ao que gosto e acredito”, dispara.
Ser mulher na música eletrônica nunca foi caminho simples, mas Aninha construiu sua força sem manuais. “Não montei estratégias. A vida me ensinou a me empoderar, seguir depois de levar muitos ‘nãos’, fluir com os ciclos de tendências e acreditar nos meus sonhos”, diz.
Com passagens por pistas internacionais e reconhecimento crescente, ela sente que o sotaque sonoro brasileiro conquistou espaço no mundo. “Somos muito competentes e criativos quanto artistas de outros países. Não somos mais subestimados como antes. Anna, Blancah, Eli Iwasa, Valenttina Luz e tantos outros artistas estão aí pra mostrar isso”, celebra.
Em tempos de redes sociais, manter a música no centro se tornou quase um ato de resistência. “É bem cansativo e limitado trabalhar apenas com a nossa imagem. Não serei a mesma fisicamente daqui a 10 anos e posso ser descartada facilmente por isso. Agora, com a música, tenho N possibilidades, tendo o poder de ser atemporal e eterna”. Para quem deseja sentir essa essência, ela indica o set que abriu para o Octave One, disponível no SoundCloud. “Diz muito sobre ser sutil e intensa ao mesmo tempo”, comenta.
E sobre o que ainda pulsa dentro de si, Aninha resume com a mesma leveza que conduz sua arte: “Na pista, o desafio é manter a frequência com as novas gerações. No estúdio, quero explorar mais instrumentos orgânicos e ser multi-instrumentista. Na vida… seguir realizando meus sonhos.”
Entre introspecção e entrega, ela reafirma o que já é visível para quem acompanha sua jornada: Aninha dança no compasso da própria verdade, transformando cada batida em uma história.
🎥Confira a seguir o set completo indicado pela artista:




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